Ao contrário do que muita gente pensa, as dificuldades de aprendizagem específicas (DAE) existem e são bem reais. Elas ocorrem universalmente e a investigação comprova que a prevalência desta problemática, em contexto escolar, é de 48%.
Por ser uma problemática que não é visível, pois as crianças aparentemente são normais, alguns autores pós-modernistas, de forma a obterem algum protagonismo, afirmavam que elas não subsistiam, que são um fenómeno construído socialmente, dependente dos valores e julgamentos das pessoas responsáveis pela educação da criança. Algumas das justificações para o insucesso inexplicável destes alunos, apontavam para um ensino inadequado, uma limitação de oportunidades educativas ou uma falta de motivação para as tarefas escolares.
Contudo, isto não é assim tão linear. Estes alunos possuem desordens a nível neurológico, isto é, problemas relacionados com o processamento da informação, que interferem na forma como a recebem, a integram, a retêm ou expressam. Uma vez que algumas áreas do cérebro não funcionam na sua plenitude, provocam um impedimento ou inabilidade para a aprendizagem da leitura, da escrita, do cálculo, ou para a aquisição de aptidões sociais. Mas é importante que saibam, que estes alunos podem ter imensas dificuldades na aprendizagem da Matemática, mas serem muito bons na aprendizagem do Português. Sentem imensa dificuldade em uma ou várias áreas, nomeadamente, compreensão de números, na descodificação de letras, nas relações espaciais, na coordenação, na identificação do princípio meio e fim de uma tarefa, na organização da informação e até em cumprir regras sociais.
Em termos de inteligência estão na média ou acima desta, no entanto, esta não é condizente com as suas realizações académicas e socio emocionais (contrariamente à deficiência mental). Por outras palavras, são miúdos que possuem todas as condições para obterem sucesso nas suas realizações académicas, sociais e emocionais, mas não o têm, pois apresentam uma incapacidade ou inabilidade em áreas como a perceção auditiva (perceber aquilo que é ouvido), perceção visual (confusão com as letras “d” e “b” ou “p” e “q”), de linguagem e de comunicação.
Esta problemática, por ser de origem neurológica, é intrínseca ao individuo e acompanha-o durante toda a sua vida. Embora possa ocorrer simultaneamente com outras desordens, ou incapacidades, (nomeadamente: privação sensorial, deficiência mental, problemas motores, défice de atenção, perturbações emocionais e sociais, ou ensino inadequado), não são causadas por estas.
Em Portugal, continuamos a assistir a alguma falta de consenso e clareza na utilização do conceito de DAE, por parte dos profissionais da educação e pais. Talvez isto aconteça por falta de conhecimento, falta de formação na área da educação especial, ou até, devido à heterogeneidade de características que esta problemática apresenta. Em grande parte dos casos, utilizam o termo de uma forma generalizada, para se referirem aos problemas comuns que ocorrem nas escolas, nomeadamente aqueles alunos que exibem um desempenho académico abaixo da média. Todos, num ou outro momento da sua carreira académica, por vários motivos, podem apresentar problemas de aprendizagem, mas aqui, refiro-me aqueles em que estas dificuldades de aprendizagem são mais significativas. Estes alunos revelam uma aprendizagem atípica numa ou mais áreas da aprendizagem (leitura, escrita, cálculo ou aquisição de aptidões sociais).
Assim, face a esta confusão gerada em torno do termo, e às constantes tentativas de criar um conceito aceite por todos, vai-se mantendo uma inadequada identificação e prestação de serviços de apoio especializados aos alunos com DAE, refletindo-se no aumento de casos de insucesso a nível académico e social.
Estes alunos têm o direito de ser abrangidos por serviços de apoio especializados, no âmbito das necessidades educativas especiais, a terem uma educação apropriada, mas para isso torna-se imprescindível uniformizar e enquadrar legalmente, de forma clara, o conceito de DAE, para posteriormente dar resposta às suas necessidades educativas, garantindo-lhe experiências de acordo com as suas realizações, com o objetivo de maximizar as suas aprendizagens académicas e socioemocionais.
A origem desta problemática é na maioria dos casos desconhecida, contudo, pode estar associada a um conjunto diversificado de fatores, nomeadamente, excesso de radiação, drogas e álcool durante a gravidez, insuficiências placentárias, incompatibilidade do Rh com a mãe, parto difícil ou prolongado, hemorragias intracranianas durante o nascimento ou privação de oxigénio- anoxia. Estas dizem respeito a algumas causas pré e perinatais, existindo ainda algumas causas pós-natais como o traumatismo craniano, tumores e derrames cerebrais, malnutrição, substâncias tóxicas ou negligência.
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